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4/3/2006

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SAÚDE BUCAL - UMA PRIORIDADE SANITÁRIA

O Brasil é um país de contradições, quando não da falta de bom senso. Na área da saúde bucal, o Brasil conta com o que há de mais avançado na ciência odontológica. São mais de 140 faculdades de odontologia e outras tantas que ainda estão aguardando aprovação e credenciamento no Ministério da Educação.

Segundo a Federação Dentária Internacional, o Brasil tem sido responsável pela formação de 11% dos dentistas do mundo, sendo um para cada 1.241 habitantes, totalizando mais de 150.000 dentistas em todo o país. Em São Paulo. temos um dentista para cada 840 habitantes. Estes números superam, em muito, aquilo que preconiza a OMS-Organização Mundial da Saúde, que determina que o número mínimo seja de 1 dentista para cada 1.500 habitantes, ou seja, o Brasil tem muitos dentistas. E, por isso a sua população deveria ter uma saúde bucal satisfatória.

No entanto, esses números, que deveriam ser motivo de orgulho, demonstram a grande contradição da saúde pública no país. Conforme recentes dados divulgados pela fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, quase um quinto da população brasileira (18,7%) nunca foi ao dentista, No meio rural, esses índices vão a 32%.

Esses números equivalem a 29,6 milhões de brasileiros que nunca tiveram contato com dentista.

Ao cruzar outros dados, começa-se a temer que a saúde bucal ruim possa estar se tornando a regra entre a população. No Brasil, o consumo de escovas de dente ainda é pequeno. São apenas 90 milhões de unidades vendidas por ano, diante de uma população estimada em 140 milhões de habitantes. O número ideal seria de 600 milhões de unidades por ano. E não existe efetivamente nenhum projeto de distribuição de escovas de dente e fios dentais à população carente.

Diante de tudo isto só se pode imaginar que algo está errado. Temos muitos dentistas, pouca assistência odontológica e muito menos ainda projetos preventivos, como, por exemplo, o estímulo da escovação.

Hoje, se sabe que a saúde bucal ruim não acaba apenas em dentes lesionados ou em extração. A saúde bucal ruim é responsável por 20% da falta ao serviço e pela queda de produção. Aquilo que a OMS chama de absenteísmo por ausência física e de corpo presente, ou seja, quando o funcionário não consegue se concentrar na sua função por que está com dor de dente, por exemplo.

O mais grave da saúde bucal ruim, no entanto está no fato de ela poder desencadear doenças graves, como a endocardite infecciosa, que é uma doença que afeta o coração e pode comprometer as funções vitais. A endocardite é responsável por alta morbidade. Em torno de 20% dos pacientes não sobrevivem a ela. Cerca de 40% dos casos de endocardite têm origem bucal e são desencadeados tanto por infecções de dentes ou gengivas em mau estado quanto pela manipulação de área infectada para tratamento odontológico.

A doença é provocada pela bactéria Streptococcus viridans. Essa bactéria faz parte da flora natural da boca mas, se penetra na circulação, adentra o coração e provoca a endocardite. Isso principalmente nas pessoas com pré-disposição para a doença, como aqueles indivíduos que são portadores de doenças ou lesões de válvula cardíaca e cardiopatias congênitas como sopro no coração.

Outras doenças graves também podem ser associar à saúde bucal ruim, como é o caso do infarto. Segundo algumas pesquisas, a arteriosclerose pode estar relacionada à inflamação e à infecção das gengivas.

Na tentativa de alertar a população para este grave problema, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo lançou a campanha "O dente pode matar". Está estimulando a população a consultar o dentista. A campanha também visa alertar as autoridades e pedir o efetivo desenvolvimento de projetos de saúde bucal em todo o país, priorizando-os. É pouco, mas já é o primeiro passo para alertar as pessoas que o cronômetro pode ser acionado pela boca.

Colaboração cedida por Moacyr da Silva, Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo e cidadão de Praia Grande.

Artigo escrito em novembro de 2.000.

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